sexta-feira, abril 15

Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum


O
entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do
intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os
símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.
A
primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira
conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o
intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar.
A
segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe,
porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de
entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se
veja.
A
terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói
noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é
tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos, é
o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está
embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa
relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência,
de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo
poderá ser interpretado.
A
quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de
outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias
luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é
tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a
erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e
a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem
entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de
símbolos diferentes.
      A
quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a
        graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a
       terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da
      Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira
      como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.

 


                                                                                                                                                                                         Fernando Pessoa

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