sexta-feira, abril 29

COMO CRIAR UM VAGABUNDO | FATO

 


  
KIT DO BRASILEIRO

*Vai transar?*
O governo dá camisinha.


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*Tá desempregado?*
O governo dá Bolsa Desemprego.


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linha pra ver o que é que te acontece!*

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"Trabalhe duro, pois milhões de pessoas que vivem do Fome-Zero e do Bolsa-Família,  sem trabalhar, dependem de você".
*RESOLVEU VIRAR BANDIDO E FOI PRESO?*
a partir de 1º/1/2011 O GOVERNO DÁ O AUXÍLIO RECLUSÃO?

*esse é novo* 
Todo presidiário com filhos tem direito a uma bolsa que, é de R$798,30 "por filho" para sustentar a família, já que o coitadinho não pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso.
 
Não acredita?
Confira no site da Previdência Social.


Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS

( http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22
)

*Mas experimenta estudar e andar na


*Não tem terra?*
O governo dá o Bolsa Invasão e ainda te aposenta.


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*Vai prestar vestibular?*
O governo dá o Bolsa Cota.

*Teve filho?*
O governo dá o Bolsa Família..


*Já transou?*
O governo dá a pílula do dia seguinte.

Ser André Guimarães....


Ser poético é encarar cada ato como um ritual.
É significar cada momento da vida.
É ter o olhar que transpassa a aparência mais densa.
É fazer do absurdo a mais doce realidade.
É Ser, em todas as suas possibilidades!
Aqui, em verso, às vezes em prosa, o pulsante poético em mim.

Meu carinho...
Minha adimiração...
Meu respeito

Meu leve passar.


                                                                       Por merecimento (Para você)

Mal (co)


-Menino quem é você?
-Por que é tão difícil conviver?
-Tão angustiante não compreender.


-Ora tão gentil...
-Ora tão arredio.


-Menino qual teu segredo?
-Teus anseios e teus medos.
-Tuas vontades e teus desejos...


-Ora tão simples
Dentro de tamanha complexidade.


-Me perco dentro desse teu abismo...
-Me acho, quando me perco.

-Tenho vontade de me aproximar...
-Mas, há em mim um medo
-Que não me permite e me faz recuar.


Olhares...
Calores...
Odores...
Pudores...
Tuas cores...
-Quem as colore?


-Ah! Doce bipolar
Poeta.
Alma de artista.
Olhar diferente
-Que não consigo sustentar.

Consigo lê-lo.
Vê-lo.
Percebê-lo.

Alma pura...
Candura?

Além do que se vê.
Devo encontrá-lo.
Mas não me sobra tempo.
Lamento.
Não há tempo.

Observo-te passar...
Cara de dengo.
Quando sozinho... (Vale ressaltar)


Segredos?
Medos?
Desejos?

Ps: Gostaria de ter tempo
Para compreender
Essa angustia que é você.

Mara Bittencourth.

quarta-feira, abril 27

Eu te amo (Para o Buarque)

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armários embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica como que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

(Chico Buarque de Olanda)- Do Brasil

ABC erótico

Abre-te!
Beija-me!
Cobre-me!

Amar-te é volúpia
Brincar é malicia
Carícia é pingo de mel.

Ai!
Basta!
Cala-te!

Abraço-te, queres?
Belisco-te, gostas?
Colo-me a ti, einh?

Ah!
Biscoito
Crocante!

Às nuvens subi
Bebendo o teu néctar
Crescendo-me em ti!

Ata-me!
Bebe-me!
Come-me!

Agora imparável
Brutalmente bom
Cada vez melhor!
                                                   (Ferreira)

terça-feira, abril 26

O malandro arrependido

Ela tinha uma cintura bem torneada
cadeiras cheias
e caçava os machos nos arredores da Madeleine.
pelo seu jeito de me dizer: Meu anjo
te apeteço?
eu vi logo que se tratava de uma debutante.

Ela tinha talento, é verdade, eu o confesso.
Ela tinha gênio,
mas sem técnica um dom não é nada.
Certamente não é tão fácil ser puta como ser freira,
pelo menos é o que se reza em latim na Sorbonne.

Sentindo-me cheio de piedade pela donzela
ensinei-lhe os pequenos truques de sua profissão
e ensinei-lhe os meios para fazer logo fortuna
rebolando o lugar onde as costas se assemelham à lua,

Porque na arte de fazer o trottoir, confesso,
o difícil é saber mexer bem a bunda.
Não se mexe a bunda da mesma maneira
para um farmacêutico, um sacristão, um funcionário.

Rapidamente instruída por meus bons ofícios
ela cedeu-me uma parte de seus benefícios.
Ajudavamo-nos mutuamente, como diz o poeta:
ela era o corpo, naturalmente, e eu a cabeça.

Quando a coitada voltava para casa sem nada
dava-lhe umas porradas mais do que com razão.
Será que ela se lembra ainda do bidê com
que lhe rachei o crânio?

Uma noite, por causa de manobras duvidosas
ela caiu vítima de uma doença vergonhosa,
então, amigavelmente, como uma moça honesta
passou-me a metade de seus micróbios.

Depois de dolorosas injeções de antibióticos
desisti da profissão de cornudo sistemático.
Não adiantou que ela chorasse e gritasse feita louca
e, como eu era apenas um canalha, fiz-me honesto.

Privado logo de minha tutela, minha pobre amiga,
correu a suportar as infâmias do bordel.
Dizem que ela se vendeu até aos tiras!
Que decadência!
Já não existe mais moralidade pública
na nossa França!

(de "Chansons"

Mais difícil é falo

Mais difícil é falo
que falá-lo

Mais difícil é língua
do que lua

Mais difícil é dado
do que dá-lo

Mais difícil vestida
do que nua

Mais fácil é o aço
do que achá-la

Mais fácil é dizê-la
que contê-la

Mais fácil é mordê-la
que comê-la

Mais fácil é aberta
do que certa

Nem difícil nem fácil
Nem aó nem licor
em dito nem contacto
nem memória de cor

Só mordido só tido
só moldado só duro
só molhada de escuro
só louca de sentido

Fácil de falá-lo
difícil de contê-lo
o melhor é calá-lo
o melhor é fodê-lo

Utopia erotica.
(de "Cara lh amas")

O pau (Por Alana Guimarães)

Essa postagem é uma sutileza....
Uma verdade.

Uma beleza!
 
 
                                         O Pau
 
Conheceram-se no bar.
Um chá, três conhaques, quatro paredes.
 Ele a tomou nos braços, queria preencher os espaços da moça. Roça, enrosca, faz força. Apertando-a, facilmente a entorpece. Ela geme e morde-se, aprendeu a presentear. Revira olhos, arranha, quando vai acabar?
Ele simplesmente não a enxergaria.
Nem se quisesse.
Nunca enxugaria as lágrimas dela.
 Até o espaço vazio entre os dois ele não via.
 Queria o cio e tentava.
Ardentemente ele tentava.
E ela de pernas abertas esperava.
 Um desatino este rapaz.
Mas que fazer?
 Havia um pau duro tentando pertencer.
E como tentava.
Ele não a enxergaria.
 Ele a via com o pau.
 
E que pau pequeno!
 
Há de ser cego, cego rapaz.  
Ao fim da noite jazia ao lado dela um pau.
Um pequeno pau ineficaz,ela diria. 
E ele ainda a alertara de que era só sexo.
E ela com seu cigarro, nua, a beira da janela, suspirava para a lua:
- Nem sexo, nem nexo.







Num mundo em que tudo é para já, perde-se a conquista, o encanto, o bem gozar. 

Mais amor
Alana Guimarães.
 

quarta-feira, abril 20

Coisas que só acontecem comigo.


Como diria minha saudosa e sábia Avozinha:
-Mente vazia oficina do Capeta risos...

Ontem a noite depois de um dia estressante e recheados de atividades entediantes...ler,aula,exercícios...tsch...tsch...tsch...
Chegei em casa por volta das16:40
Fui almoçar...minha quase janta e como minha cabeça estava doendo um pouco mais tomei um remédio e deitei.Por volta das 18hrs levantei,tomei um banho (de balde Fo%¨#@...Por que o caralho do chuveiro sei lá o que foi que deu...resolveu que não iria funcionar ...a água não caia. Falei pra mim: Você é linda...é maravilhosa...isso é bobagem...nada vai tirar-lhe a paciência).Bom, depois do meu banho (maravilhoso ¬¬º).Sentei pra Estudar e aproveitar que as CriONÇAS da rua que moro não estavam presentes...sabe lá Deus onde estavam...
As 20hrs fui organizar o que levar ...(já que havia planos de viajar no dia seguinte).Uns 30 minutos depois sentei-me no sofá e dormir, sem querer rs...juro quem foi sem querer.

Conversei um Pouco com Nonato que pensava eu Estar em FSA já estava em SSA ...moço rápido rs e ás 23hrs que a conversa começa a ficar tensa entre nós ...
Querido leitor haha.....

Tenho uns hábitos noturnos que muitos ...além de Alana Guimarães que sofre do mesmo Bem que Eu (diga-se de passagem), 23 e 45 achei um resto de vinho na geladeira(que sabe lá Deus a procedência e validade haha...comecei a tomar e decidi fazer algumas coisinhas....como por exemplo: limpar a casa(faxina pesada – acredite quem quizer-, retirar as cutículas, limpeza de pele...)...resumo da ópera.

Fui dormir as 2:22 (após tomar um remedinho- com uma targinha coloridinha que não falarei a cor por motivos de força maior)
...Deitei e talzs, com cinco minutos levantei com uma porra dum Grilo gritando feito um louco dentro de casa....aí comecei a caçada e tal qual uma Guerreira Xavante ¬¬º depois de quase 5 minutos de procura encontrei-o embaixo do  fogão e peguei a havaiana – Queridos acreditem em Deus...rs Espatifei ele com sangue no olho. E ainda tive que limpar uma meleira que fez .

Acordei as 5 hrs...e comecei a ouvir as previsõs no canal 32 que nada passa ...além de uma mulher com a cara ...jeito e olhar de psicopata fazendo previsões....

Descobri que a culpa é de Neturno pow!
A porra do meu signo ta lá ....na casa de Neturno ...
E Eu aqui embaixo me fude@#%**  né....


Quase fui atropelada quando estava indo pra faculdade(Por um senhor num cavalo que me xingou bastante- uns nomezinhos feios que não pronunciarei aqui pra vocês não se assustarem com este nobre cavaleiro que montado no seu cavalo velho e feio...magrinho tadinho ) ia sabe lá Deus pra onde....Mas espero que pra bem longe de mim...
Chego eu a faculdade ás 8hrs e a professora:
POR MOTIVO DE SAÚDE NÃO VEIO....AQUELA....Desgraç!%&&& 
a aula das 11 SEM NOTÍCIAS DA TAL DA PROFESSORA QUE ESTÁ VINDO TRANFERIDA DA CASA DA PORRA...e pelo que ouço deve ser longe.   

.....Perto do meio dia vamos ver o que o dia me revela....não é??!!

                     Afinal...
                 Dou gargalhadas na cara do perigo.






sexta-feira, abril 15

TABACARIA.


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928

Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum


O
entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do
intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os
símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.
A
primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira
conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o
intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar.
A
segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe,
porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de
entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se
veja.
A
terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói
noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é
tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos, é
o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está
embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa
relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência,
de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo
poderá ser interpretado.
A
quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de
outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias
luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é
tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a
erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e
a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem
entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de
símbolos diferentes.
      A
quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a
        graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a
       terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da
      Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira
      como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.

 


                                                                                                                                                                                         Fernando Pessoa